"EDUCAÇÃO HISTÓRICA E AULA OFICINA": MODOS DE ENSINAR E APRENDER HISTÓRIA
Esta proposta pretende trabalhar com o
conceito de EDUCAÇÃO HISTÓRICA, experiência de ensino-aprendizagem de História
que utiliza como modelo de ação a
chamada AULA-OFICINA, inovação interdisciplinar fundamental dentro das
perspectivas pedagógicas da licenciatura em História da UVA, e que se baseia em três pressupostos básicos:
1- A interpretação
das fontes: cujo objetivo é ler as fontes históricas mais diversificadas, a
partir dos mais variados suportes (iconográficas, escritas, sonoras, visuais,
olfativas, virtuais, etc), com a intenção de relacionar os tempos e as
problemáticas humanas;
2 - A compreensão
contextualizada: busca entender situações humanas e sociais em diferentes
tempos e espaços, procurando compreender os sentidos do passado, num esforço
para relacionar passado presente, a partir construção de questões e hipóteses;
3 - A comunicação: possibilitar que as interpretações e
compreensões das experiências humanas com relação ao passado e ao presente
sejam comunicadas na perspectiva dos
mais diferentes suportes, como desenho, escrita, iconografia, etc.
Cada uma dessas ações
articuladas pretendem fundamentar a
análise, compreensão e explicação do que seria o "passado, o presente
problematizado e o futuro
perspectivado", segundo a historiadora e professora Isabel Barca,
da Universidade do Minho, Portugal, numa perspectiva que busca enfatizar muito mais do que o enfoque nos
conteúdos, a instrumentalização dos
estudantes com relação aos modos de fazer
e de pensar a aprendizagem do
ensino de História.
- Detalhamento da proposta de iniciação à docência (vide Seção 1 do Capítulo II da Portaria nº96/13/CAPES – até 2000 caracteres)
A EDUCAÇÃO HISTÓRICA pensa a DOCÊNCIA na perspectiva da
AULA-OFICINA. E o que isso significa concretamente no ambiente de formação dos estudantes dentro da
Universidade e no espaço escolar? Significa, a princípio, a superação de uma metodologia do ensino de História
baseada apenas na repetição enfadonha dos conteúdos, fazendo do ensino um desafio constante na busca por atividades
que se aproximem o máximo possível da vida concreta dos estudantes. Essa
mudança de rumo, agregando espaços
formativos - escolas e IES, somando esforços no sentido de se fazer da prática
de ensino-aprendizagem a construção de
meios interdisciplinares e transdisciplinares para uma efetiva prática do fazer
pedagógico que seja capaz de fazer com que o estudante aprenda a pensar historicamente o mundo à sua volta, o que significa dizer, em
outras palavras, se humanizar e saber se
situar no tempo e no espaço, fazendo uma conexão entre o passado e o presente.
Portanto, pensar a DOCÊNCIA conjugando os
três pressupostos básicos da EDUCAÇÃO HISTÓRICA: Interpretação das fontes
históricas, Compreensão contextualizada e Comunicação dos processos de
aprendizagem, é lançar mão de um referencial teórico contemporâneo,
absolutamente novo para a Licenciatura em HISTÓRIA da UVA,
capaz de articular o ensino de história com novas possibilidades
didático-pedagógicas, estimulando assim a inovação das práticas de ensino-aprendizagem, estimulando o
trabalho em grupo, o respeito pela diferença, a criatividade e a inventividade.
A EDUCAÇÃO HISTÓRICA pensa o contexto do estudante, mas mais do que
isso, pensa o contexto da ESCOLA , especialmente quando se volta para o ARQUIVO
ESCOLAR, lugar fundamental de historicidade que precisa ser aprendida pelas
aulas de história.
A AULA-OFICINA pretende apreender
o conhecimento prévio dos estudantes, rompendo paulatinamente a crosta do senso
comum que eles possuem, trabalhando o conhecimento em sua perspectiva
sistematizada, trabalhando a partir das problematizações levantadas por eles,
confrontando as respostas dadas com documentos, narrativa dos livros, cinema, musica, pintura, entre outras
formas de conhecimento.
No
contexto da AULA-OFICINA, o professor é visto como um pesquisador. Muito mais
do que orientar, ele estimula a construção dos conhecimentos por parte dos
estudantes, a partir do que chamaríamos de UNIDADE TEMÁTICA INVESTIGATIVA que,
ao eleger uma temática dentro das perspectivas de ensino estabelecidas pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais, pretende fazer com que os estudantes se
transformem em "intérpretes críticos de situações e contextos em que se
inserem para assumirem um papel participativo na sua construção e
transformação", conforme a professora Ana Paula Caetano.
Outra relevância da EDUCAÇÃO HISTÓRICA é que
a produção dos estudantes é depositada na Biblioteca da Escola e considerada
como uma produção cultural importante para compreensão e análise da sociedade e
do espaço mais específico em que eles se inserem.
- Detalhamento das ações do subprojeto, com a respectiva justificativa para a formação do licenciando (vide 4.3 Edital nº61/13/CAPES)
Ação
|
Justificativa (até 500 caracteres por ação)
|
1 - AÇÃO INTERDISCIPLINARES (AI)
|
Não se concebe o
conhecimento histórico sem um diálogo com outras áreas do saber, uma vez que
a produção do conhecimento em nosso tempo tem se caracterizado por sua
dimensão plural. Nesse sentido entendemos que o ESTUDO DO MEIO é uma das
formas mais interessantes para se discutir a interdisplinaridade, tendo como
objetivo o "estudo da realidade
próxima do aluno". O ESTUDO DO
MEIO não pode ser considerado uma espécie de excursão, de passeio, sem uma
finalidade previamente definida. Essa atividade pode associar disciplinas como a História, registrando as
memórias, a Geografia, lendo os espaços,o Português, com a análise de placas, anúncios,
a Filosofia, lendo e analisando os discursos mais "invisíveis" da
cidade, a Matemática, situando o espaço em sua dimensão numérica e as Artes,lendo
os processos visuais, na medida em que estudar o "meio social e
físico" corresponde a um laboratório de ensino", segundo a
professora Circe Maria F. Bittencourt. Esse tipo de atividade é importante
porque também "favorece a
aquisição de uma série de capacidades,
destacando-se a observação e o domínio de organizar e analisar registros
orais e visuais", segundo ainda Bittencourt.
|
1.1- CONHECENDO O PATRIMONIO EDIFICADO E IMATERIAL DA CIDADE DE SOBRAL
|
Entendemos
Patrimônio de forma ampla, no sentido de uma herança deixada em forma de um monumento, de uma memória. Nesse
sentido, o patrimônio não é exclusivo do centro da cidade. Nos bairros também
encontramos monumentos que guardam memórias, rastros e vestígios do passado.
Portanto, além do conhecimento do Centro
Tombado da cidade de Sobral, precisamos resignificar o conceito de
patrimônio é descobri-lo em outros espaços da cidade. Faremos essa atividade
em parceria com a CASA DO CAPITÃO MOR, espaço de resguardo de vasta
documentação sobre o patrimônio edificado de Sobral, e que pertence a
Secretaria da Cultura de Sobral.
Enveredaremos
também pela análise de uma concepção
de patrimônio em sua perspectiva imaterial, o que significa que abordaremos
as formas de expressão cultural, os modos de criar, fazer e viver, as
práticas e o imaginário da população.
|
1.2 - GRUPO DE ESTUDOS HISTÓRIA E LINGUAGENS
|
Um Grupo de Estudos
é de fundamental importância para manter os participantes do projeto em
constante atualização teórica, questão fundamental uma vez que o ENSINO DE
HISTÓRIA e a formação DOCENTE em História depende basicamente de dois
pressupostos: qual o nosso conceito de
história e o que entendemos por ensino-aprendizagem, questões
constantemente reavaliadas. Por outro lado, um Grupo de Estudos que conjugue
outras formas de LINGUAGEM como a cinematográfica, a iconográfica, a virtual,
a plástica, entre outras, abre ainda mais possibilidades múltiplas de leitura
e entendimento do mundo mais próximo e mais diante dos estudantes. Essa
atividade será feita em parceria com o LABORATÓRIO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
EM HISTÓRIA - LEAH, do Curso de História
|
2 - AÇÕES ESPECÍFICAS DA ÁREA DE HISTÓRIA (AEH)
|
|
2. 1 - CINE HISTÓRIA, PAISAGEM SONORA E ENSINO DE HISTÓRIA
|
Entendemos que os
estudantes devem ser levados a analisar e ler outras linguagens para além da
palavra escrita. A leitura de imagens e de sons é praticamente uma necessidade de nosso
tempo repleto de apelos visuais e sonoros. Dessa forma, a leitura de obras
cinematográficas especialmente aquelas que tratam de temas históricos, é um
caminho para que os estudantes possam refletir que a história também é
representada a partir de imagens em movimento, em que o movimento da câmera,
o roteiro, a trucagem inventam outro
mundo para a análise histórica. Por outro lado, toda cidade produz
inúmeros sons, particularidades sonoras que podem ser lidas à luz do
conhecimento histórico. Como exemplo podemos citar uma velha tradição
relativa a cidade de Sobral segundo a qual, o som dos pianos era uma marca de
uma "cidade culta e refinada". Por isso nos perguntamos: que cidade
era aquela? Mas que outros fragmentos sonoros compõem os espaços dos bairros
e do centro da cidade. Quais as diferenças entre os rumores desses dois
espaços citadinos?
Essa atividades,
com relação a projeção de filmes será feita em parceria com a SALA DE CINEMA
FALB RANGEL, da Casa da Cultura de Sobral.
|
2.2 - ENSINO DE HISTÓRIA, ARQUIVO ESCOLAR E FAMILIAR
|
Paul Ricouer, um
dos mais importantes hermeneutas do século XX, em sua importante obra A
memória, a história, o esquecimento (2008), faz uma ampla discussão sobre
arquivo. Para ele, "Nos arquivos o historiador (...) é um leitor".
E reforça sua assertiva dizendo que "Antes do arquivo consultado,
constituído, há o arquivamento". Essas questões são essenciais para
embasar essa atividade, uma vez que sendo o arquivo um lugar que guarda
vestígios do passado a partir de documentos, entendemos todo arquivo como um
"lugar de memória". Nesse sentido, é também um lugar de leitura, de
apreensão do conhecimento, de construção de perguntas. E se antes do arquivo
consultado há o arquivamento, imaginemos a riqueza contida nos arquivamentos
escolares. Nosso objetivo aqui é adentrar nos arquivos das escolas citadas
neste subprojeto, com a intenção de selecionar, organizar por tipologias os
materiais guardados. Acreditamos que poderemos entender a partir desse
trabalho, além do conceito de educação no tempo, compreenderemos também os
conceitos de história subjacentes em cadernetas, planos de curso e de aula,
em propostas e práticas de planejamento, bem como no âmbito dos materiais
didáticos utilizados em determinado período de tempo. Além do mais de maneira
geral os arquivos escolares também guardam o que chamaríamos de memória imagética da escola, ou seja,
fotografias, ou mesmo pinturas ou gravuras. Portanto, é bem possível
entendendo o que e como se ensinava história no passado, aprender e ensinar
história no presente.O mesmo caráter de importância tem os Arquivos
Familiares, guardados em caixas, envelopes, malas ou armários, na forma de
objetos de uso pessoal, como talheres, roupas, bem como fotografias de pais e
avós. Nesses tipos de arquivo "os alunos são instigados a pensar sobre o passado,
estabelecendo inferências sobre objetos fontes que poderiam indicar como
viviam as pessoas, como as mudanças ao longo do tempo transformaram as formas
como se escreve a história, o modo como vivem as pessoas,a tecnologia",
para Marlene Cainelli.
|
2.3 - ORGANIZAÇÃO DE ACERVO E ELABORAÇÃO DE MATERIAIS
DIDÁTICOS
|
Acreditamos que a
formação docente dos estudantes passa pela constituição de um acervo razoável
de obras específicas sobre História.Nesse sentido a importância do LABORATÓRIO DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM
HISTÓRIA - LEAH, que tem um acerto
importante de livros didáticos e de textos e vídeos de diferentes períodos. Esse tipo de acervo
também é importante para servir de referência com relação a construção e
elaboração de materiais didáticos que possam ter uma maior inserção na vida
dos estudantes das escolas acompanhadas por esse subprojeto. A produção de
materiais didáticos será ainda mais importante quando analisamos que o modelo de ação da EDUCAÇÃO
HISTÓRICA a partir da AULA-OFICINA
trabalha com uma concepção digamos assim mais pragmática do ensino-aprendizagem.
|
2.4 - SEMINÁRIOS DE ENSINO E PESQUISA EM HISTÓRIA LOCAL
|
“
Uma
cidade, um campo, de longe são uma cidade e um campo, mas à medida que nos
aproximamos são casas, árvores, telhas, folhas, capins, formigas, pernas de
formigas, até o infinito. Tudo isso está envolto no nome campo”.
(Blaise Pascal), Pensar na História
Local, para nós, é buscar segundo as palavras do filósofo, entre outras
coisas, “pernas de formigas”, mas também, evidentemente, as casas e seus
telhados, as ruas e seus traçados, os prédios e seus quase sempre nomes sonoros, as praças e sua
movimentação, as igrejas e seus fiéis, os bares e suas esquinas, “as práticas
estranhas ao espaço geométrico oficial”, como sugere Michel de Certeau.
Porque se de longe uma cidade é sempre uma cidade, de perto é possível
enxergar até mesmo as pernas da formigas, que nos desviam das práticas
oficiais que pretendem de modo geral mostrar a cidade da fachada, a cidade
grandiosa por trás de seus discursos e imagens oficiais. O desafio básico é
pensar a História Local como sendo a história das cidades – de nossa cidade
-, de modo que possamos romper a opacidade da historiografia oficial que
sempre construiu representações
monumentais sobre o passado. Por
outro lado, a história local não reflete apenas a perspectiva micro, ou seja,
o bairro em que moramos e conhecemos, isso porque, "a realidade local
não contém em si mesma, a chave de sua própria explicação", como sugere
Schmitt. Por isso organizar Seminários de Ensino e Pesquisa em Historia
Local, ajudarão os estudantes a se inserirem na comunidade da qual fazem
parte, criar a historicidade e discutir sua identidade, gerando assim
atitudes investigativas, possibilitando
condições de análise para os diferentes níveis da realidade
experimentados pelos estudantes.
|
2.5 - ENSINO DE HISTÓRIA E PRÁTICAS MUSEOLÓGICAS
|
Temos em Sobral
três importantes museus: o Museu Dom José, administrado pela UVA, o Museu do
Eclipse, sob administração da Secretaria de Cultura de Sobral e o Museu Madi,
também administrado por essa secretaria. O Museu Dom José é um museu mais
tradicional, com seus objetos de arte decorativa e imaginário religiosa. O
Museu do Eclipse tem uma perspectiva mais voltada para a ciência, pois expõe
objetos e documentos relativos ao Eclipse de 1919. Já o Museu Madi,
atualmente na Casa da Cultura, expõe obra de arte pós-modernas, com suas
peças coloridas e geometrizantes. A partir de uma parceria com a Casa da
Cultura de Sobral e com a direção do Museu Dom José, faremos visitas a esse
espaços, e pela natureza dos mesmos, possibilitaremos ensinar História Local,
Nacional e Universal, na medida em que
"Ao visitarem museus e observarem os objetos, os alunos podem ter
contato direto com os vestígios pertencentes ao passado. O objeto sugere
fatos, processos e ideais e, dessa forma, potencia o conhecimento
significativo de determinado período histórico-cronológico", segundo Schmidt.
|
2.6 - OS JORNAIS E O ENSINO DE HISTÓRIA
|
A diversidade de fontes
utilizadas pela História tem possibilitado ao ensino incorporar novas
linguagem ao processo de aprendizagem, rompendo assim com a ideia de que a
história em si está depositada apenas nos livros didáticos. No entanto,
trabalhar com jornais locais pressupõe que alguns cuidados sejam
tomados, entre eles deixar muito claro
aos estudantes que os jornais "sempre possuem determinados
comprometimentos, sejam eles ideológicos, políticos ou econômicos, ou seja,
os jornais não são inocentes. Outra questão importante é reforçar que as
opiniões, noticias e opiniões veiculadas, são discursos, e enquanto tais, foram construídos por alguém numa
dada situação, com certos objetivos nem sempre muito claros. Trabalhar com
jornais é importante porque como salienta a professora Maria Cândida Proença:
1- Trabalhar com
jornais pode estimular o aluno a ler sobre acontecimentos atuais, bem como
desenvolver sua capacidade de interpretação e crítica da história vivida por
ele.
2 - A leitura e o comentário crítico dos jornais ajudam e
favorecem a introdução do aluno na realidade local: de seu bairro, de sua
cidade, de seu estado, de seu país e do mundo.
3 - O debate sobre
matérias jornalísticas pode fomentar a troca de opiniões e a construção de
argumentação histórica.
4- A discussão
auxilia o aluno a ler jornal de forma crítica.
|